Hoje tomei coragem novamente para contar mais uma parte da minha história...
Essa parte ainda dói muuuuuito, mas sinto que já consigo falar de uma forma mais tranquila...
Sempre tive o sonho de ser mãe biológica, é claro, como toda mulher normal que nasceu com o sexo feminino e "pronto" para a reprodução... Por um bom tempo da minha vida, busquei os métodos contraceptivos por achar que ainda não era a hora de ser mãe... Se eu soubesse o que iria acontecer talvez tivesse pensado diferente...
Sei que Deus sabe o que faz e é Ele que escreve a nossa história a cada dia... portanto nem sei se poderia ter sido mãe ou não... O que sei é que agora não poderei mais gerar um filho...
Por conta do câncer que tive no ovário, precisei passar por 3 procedimentos cirúrgicos...
No primeiro momento soube que tinha um cisto e que iria tirar um ovário, porém ficaria com o outro, o que me possibilitaria mesmo que com 50% de chance, uma gravidez sem grandes problemas...
Abri mão de um e grudei no outro com todas as minhas esperanças...
Então veio o diagnóstico: CÂNCER e já apresentava uma infiltração microscópica no outro ovário... e deveria tirá-lo também, sem ter a possibilidade de realizar uma congelação de óvulos, pois esse era o órgão afetado...
Mais uma vez o sofrimento... então me agarrei no útero com a esperança de uma gestação de proveta e com uma adoção de óvulo...
Fiquei apostando nessa possibilidade por quase 6 meses... cheguei a pesquisar clínicas de reprodução humana, valores, como era o procedimento, Leis e tudo mais que achei que deveria ter de informações... E aí veio mais uma vez a barreira...
Os médicos oncologistas explicaram que segundo o Protocolo Mundial de Oncologia, quando se tem diagnosticado um câncer de ovário bilateral... o que era o meu caso... a histerectomia total deveria ser realizada... e então fui colocada frente a alguns questionamentos que mexeram muuuuuuuuuuuuuuuito comigo...
Os médicos cogitaram que se no meio da gestação o tumor voltasse, eu deveria escolher entre realizar um aborto ou correr o risco de gerar uma criança órfã... Como nenhuma das duas alternativas fazia parte dos meus planos... fui indagada se era um risco que eu queria correr e pensando em tudo isso... além do risco, valores dos procedimentos médicos para reprodução humana, procura por doação de óvulo compatível, será que daria certo... cheguei a conclusão que esse era um risco que eu não queria correr...
Afinal por que deveria remar contra a maré???
Então, no terceiro procedimento cirúrgico foi retirado o útero que estava totalmente saudável...
E assim coloquei um ponto final nessa parte da história da minha vida.
Hoje ainda vivo esse luto... e sei que o tempo vai amenizar a minha dor... porém é algo que jamais será apagado da minha vida...
Passei uns tempos sem poder ver mulheres grávidas e bebês... era muito sofrido me ver diante da minha impossibilidade...
Pensava diariamente como a vida é engraçada... na minha escolha profissional... sou professora de Educação Infantil... cuido tanto dos filhos dos outros e não poderei cuidar de um meu...
São tantos os questionamentos e sei que as respostas não estão aqui... Só Deus sabe o que faz!!! Ele sim tem os propósitos para todos nós...
Escuto sempre das pessoas... não se preocupe... filho você adota e o amor é igual o de mãe...
Eu sei disso... porém o meu sofrimento é por não poder abrir um exame e ler POSITIVO... não saber como uma barriga cresce tanto... sentir o bebê mexer... o desconforto... o inchaço... a beleza e a felicidade de uma mulher quando está grávida... pensar será que vai parecer com a mamãe ou com o papai... a foto da família no centro cirúrgico... a primeira mamada... Sei lá essas coisas que eu imagino que as mulheres grávidas passam e só elas sabem o que é esse mix de sentimentos...
Enfim... estou de coração aberto...
Não vou procurar por um filho(a) pois sei que se Deus escrever alguma criança na minha história... ela irá me encontrar...
Obrigada por conseguir desabafar...
Fiquem com Deus!!!
Beijos
Jú